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FONACATE - Juarez Freitas fala sobre a importância da autonomia das carreiras de Estado18/05/2010
"O político pensa a curto prazo. São as carreiras típicas de Estado as responsáveis por uma continuidade no meio de incontinuidades" .
Para o professor de direito constitucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Juarez Freitas, a Lei Orgânica do Fisco tem de seguir o modelo da do Ministério Público, com o secretário da RFB (Receita Federal do Brasil) sendo escolhido pelos Auditores-Fiscais entre os membros da Classe. A afirmativa do constitucionalista foi durante a Conferência Nacional das Carreiras Típicas de Estado. Juarez Freitas foi o palestrante do painel “A autonomia das carreiras de Estado: funções, visão e a relação com o poder político”, que teve como coordenador o presidente do Sindifisco Nacional, Pedro Delarue, e como debatedor o cientista político Murillo de Aragão. Defensor das carreiras típicas de Estado, Juarez Freitas afirmou que a recente crise mundial redimensionou o papel do Estado. “Até então, havia a ideia de que o mercado poderia se autorregular, que o Estado não era necessário, mas foi comprovado que sem regulação o mercado é autofágico. Quando, em 2007, eu defendia as carreiras típicas era chamado de estatista, mas agora todos reconhecem que a crise não atingiu mais fortemente o Brasil porque o nosso Banco Central, que exerce uma função típica de Estado, teve independência para cuidar da rigidez do sistema financeiro”, argumentou. Ele sustentou que as atividades-fins do Estado não podem ser delegadas - entre elas, a da fiscalização. “Quem deve estar no topo da hierarquia da Receita Federal? Alguém da carreira de Estado ou outra pessoa de confiança do ministro A ou B? É lógico que estou partindo do pressuposto de que alguém da carreira é independente”, afirmou. Juarez Freitas defendeu, inclusive, que não seja realizada lista tríplice, que seja indicado o nome escolhido pela carreira. “Se os Auditores-Fiscais têm funções que são indelegáveis, o cargo de secretário da Receita não se coaduna com a política partidária. Isso não quer dizer que ele não possa dialogar com o ministro da Fazenda, mas não deve ter subordinação. A lei orgânica tem de acabar com a ideia de subordinação”, explicou. O constitucionalista enfatizou que as carreiras típicas de Estado têm a importante tarefa de pensar políticas além dos governos. “O político pensa a curto prazo. São as carreiras típicas de Estado as responsáveis por uma continuidade no meio de incontinuidades”, opinou. Democracia – O debatedor do painel, cientista político Murillo Aragão, fez um histórico sobre a formação do serviço público brasileiro e defendeu que as carreiras típicas de Estado têm um importante papel para a solidificação da democracia, pois barram as oligarquias e fazem com que haja um maior planejamento estatal. “As carreiras típicas evitam, por exemplo, o voluntarismo político que gerou tantas obras inacabadas”, explicou. Para o cientista político, os servidores também servem para reduzir o caráter subalterno da sociedade brasileira, que historicamente tem medo do Estado. Murillo Aragão criticou, no entanto, o corporativismo no serviço público, o qual, na sua visão, prejudica a sociedade. Corporativismo – O presidente do Sindifisco, Pedro Delarue, comentou as críticas do cientista político afirmando que quando as carreiras típicas lutam pelas manutenções de suas prerrogativas e atribuições, estão defendendo a sociedade. “Quando o agente público não tem determinadas garantias, quando ele fica fragilizado diante do poder político e econômico, fragiliza toda a sociedade. Muitas vezes o corporativismo é sadio”, defendeu. Ao responder às perguntas dos ouvintes do painel, Juarez Freitas aproveitou para se alinhar à fala de Delarue sobre corporativismo. “Se o Sindicato estiver lutando por garantias do Auditor-Fiscal, por exemplo, ele não está sendo corporativo, pois defende o interesse público primário, inerentes às carreiras típicas de Estado, e não a pessoas”, argumentou. O constitucionalista também se posicionou contrariamente à ascensão funcional de uma carreira para outra. “Eu defendo o concurso público, que não é contra A ou B. Defendo o princípio constitucional da impessoalidade e, por isso, não posso concordar que, mesmo em pequena escala, esse princípio seja desrespeitado. Acho uma pena que tanta energia seja usada nessa luta”, criticou. |
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